BASTOS, J.T.; SANTOS, P.A.B.; AMANCIO, E.C; GADDA, T.M.; RAMALHO, J.A.; KING, M.J.; OVIEDO-TRESPALACIOS, O. Naturalistic Driving Study in Brazil: An Analysis of Mobile Phone Use Behavior while Driving. International Journal of Environmental Research and Public Health. 2020, 17, 6412.
A pesquisa, coordenada pelo Prof. Dr. Jorge Tiago Bastos, é o resultado de uma parceria entre a Universidade Federal do Paraná, o Observatório Nacional de Segurança Viária e o Centre for Accident Research and Road Safety da Queensland University of Technology, localizado em Brisbane, Austrália (https://research.qut.edu.au/carrsq/), além de contar com pesquisadores da Unviersidade Tecnológica Federal do Paraná).
A pesquisa teve como objetivo obter indicadores sobre o uso do telefone celular (UTC) durante a condução de automóveis no Brasil. O método utilizado foi o Estudo Naturalístico de Condução, inédito no Brasil, que permite a investigação dos comportamentos do condutor em cenários reais de condução. A pesquisa teve como justificativa a falta de conhecimentos sobre os comportamentos de distração dos condutores brasileiros, principalmente sobre o UTC. A interação manual-visual com o celular durante a direção traz um impacto negativo na performance do condutor, aumentando o risco de sinistros de trânsito. Assim, é fundamental a coleta e análise desses indicadores para um melhor diagnóstico a respeito desse comportamento de risco.
A pesquisa foi feita através do monitoramento das viagens do dia-a-dia (trabalho, lazer e rotina) de um conjunto de condutores participantes. Os seus veículos foram instrumentados com um conjunto de três câmeras, um aparelho de GPS e um notebook. Duas câmeras registraram o ambiente exterior ao veículo e uma registrou os condutores durante a direção e o painel do veículo. Por meio do GPS, as coordenadas geográficas dos veículos em períodos de um segundo foram registradas, permitindo medir a velocidade praticada dos condutores.
A amostra foi composta de seis condutores, com suas idades variando entre 19 e 38 anos. Entre o total, a idade da primeira habilitação variou entre 1 e 21 anos, com 4 dos condutores sendo do sexo masculino. Cada condutor foi monitorado por duas semanas e a extensão do experimento foi entre agosto e novembro de 2019. Toda a coleta contou com 201 viagens, 58,38 horas de viagem e 1.303 km de distância percorrida. O local de estudo foi Curitiba-PR. De toda a distância percorrida, 97% foi percorrida em vias urbanas.
A análise da câmera interna permitiu detectar o UTC em seis tipos distintos de uso: (i) digitar, (ii) realizar/receber ligação ou gravar/escutar mensagens de voz, (iii) segurar, (iv) uso no suporte, (v) navegar/checar e (vi) outros. Um total de 627 casos UTC foram detectados. Para melhor analisar o uso do celular, foram estabelecidos 5 indicadores de desempenho:
– I1 – tempo médio de UTC (segundos);
– I2 – porcentagem de viagens com UTC (%);
– I3 – porcentagem do tempo de UTC (%);
– I4 – frequência do UTC (usos/hora); e
– I5 – velocidade instantânea média durante o UTC (km/h).
Em média, a duração do UTC de cada condutor foi de 28,46 segundos, e a atividade mais praticada foi o navegar/checar, representando 46% do tempo total de uso. O UTC ocorreu em aproximadamente 59% das viagens, com uma frequência aproximada de uso de 8 usos/hora. A porcentagem de tempo de viagem com o UTC foi de 7% e a velocidade média instantânea foi de aproximadamente 13 km/h.
Os condutores dedicaram menos tempo a atividades mais complexas, como digitar, em contraste com a atividade de navegar/chegar, que é uma atividade mais simples. Foi identificado que os condutores tiveram um tempo médio de uso no suporte de 11 segundos, um valor menor ao comparar com a atividade de realizar/receber ligação ou gravar/escutar mensagens de voz, que teve uma duração média de 63 segundos. Isso mostra que a atividade de conversar no celular é vista pelos condutores como um baixo risco na tarefa de condução do veículo, enquanto o uso no suporte apresenta um certo desconforto, assim, tendo um tempo menor de ocorrência.
Em relação à velocidade praticada, os resultados mostram que o UTC durante a condução aumenta em longas viagens e em velocidades mais reduzidas. A redução de velocidade ocorre na tentativa de mitigar a falta de atenção no trânsito e facilitar o uso do celular. A relação do UTC com a duração da viagem pode manifestar a tentativa de o condutor mitigar o seu tédio com o UTC, durante longas viagens.
O artigo contribuiu com conhecimentos inéditos sobre os comportamentos dos condutores brasileiros, principalmente em relação ao comportamento de grande distração que é o uso do telefone celular. O trabalho apresentou algumas limitações, como o tamanho da amostra e a pequena área de estudo. A fim de melhorar a representatividade dos dados, são necessárias futuras pesquisas incluindo o experimento em outras cidades brasileiras e aumentando a quantidade de participantes. A maior diversidade da amostra permitiria a identificação da influência de outros fatores no uso do telefone celular, como a idade do condutor.